ESCUTA EMPÁTICA: CORAÇÃO NO OUVIDO!
Dentro das técnicas de comunicação entendemos que a responsabilidade da mensagem está com o emissor e que ele deve encontrar diferentes canais de comunicação ou estratégias para que a mensagem seja recebida, absorvida e entendida perfeitamente.
desejo dar a vocês hoje como fruto de um feedback que recebi dias atrás, uma nova história, ainda na linha da anterior que fala sobre a importância da comunicação, porém agora com o foco na arte de ouvir. Divirtam-se!
Era um domingo de manhã, na época eu devia ter uns
dez anos, lembro de estar na igreja com minha família, mas aquele dia era
diferente, um dia de festa, pois tínhamos um ilustre visitante. O teólogo,
educador e escritor Rubem Alves estava visitando a nossa igreja. Um imenso
privilégio! Mas, nos altos dos meus dez anos de idade eu não tinha a mínima
noção do que aquela visita significava.
Como toda comunidade cristã, nossa igreja era
amistosa e fazia esforço para receber bem seus visitantes e muitas vezes eles
eram literalmente disputados. Para alegrar e encantar o dia do meu pai nós
ganhamos a “guerra” do Rubem Alves e ele almoçou em nossa casa naquele domingo.
O almoço foi simples, típico de uma família de
classe média, mas recheado de palavras, ideias e emoções! Eu ficava alegre só
de ver a satisfação de meu pai, não conseguia nem mesmo piscar, era como se
estivesse hipnotizada pela conversa e histórias que estava presenciando. Para
minha tristeza, não lembro de quase nada do que foi dito, mas um pedacinho
consegui guardar, algo simples, provavelmente o que cabia na minha mente
infantil naquele momento. Lembro do Rubem Alves dizer que gostava de descansar
com as pernas para cima, que isso fazia muito bem a ele. É interessante, quem
pode entender isso?
Certamente muitas ideais foram trocadas naquela mesa e eu
lembro somente dele dizer que gostava de descansar suas pernas! O tempo passou e nunca mais tivemos o privilégio
de encontrar com ele novamente, mas eu pude tropeçar em suas ideias no decorrer
de minha vida adulta.
Gosto muito de um pensamento dele que diz assim:
“Sempre vejo anunciados cursos de oratória.
Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar.
Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas
acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil!”
Rubem Alves dizia também que não é bastante ter
ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso que haja silêncio dentro da alma.
John Powell afirma que para compreender as pessoas
devemos tentar escutar o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca
venham a dizer.
Já Goethe comenta que falar é uma necessidade, mas
escutar é uma arte!
Dentro das técnicas de comunicação entendemos
que a responsabilidade da mensagem está com o emissor e que ele deve encontrar
diferentes canais de comunicação ou estratégias para que a mensagem seja
recebida, absorvida e entendida perfeitamente. Cabe ao emissor conhecer a
mentalidade da pessoa com quem se fala e, desta forma, adotar o meio mais
adequado para atingi-la.
Mas como fazer isso quando o receptor não deseja
ouvir? Como se faz esse milagre?
No que diz respeito à comunicação, não existe
milagre, existe esforço de todos os envolvidos no processo!
Outro dia ouvi que temos que ter o coração no
ouvido. Achei essa descrição perfeita, o coração no ouvido!
E como é que se faz isso? Como podemos colocar o
coração em um local onde não é esperado que ele esteja?
Na minha opinião amor e interesse são a melhor
resposta, o melhor caminho. Temos dificuldade para ouvir, porque somos
soberbos!
Vale lembrar que não basta o silêncio de fora. É preciso haver
silêncio dentro da alma, ter ausência de pensamentos, de ideias preconcebidas e
de certezas. Ouvir não significa simplesmente escutar os sons
da voz ou acompanhar o raciocínio da outra pessoa.
Ter o coração no ouvido é
muito mais do que isso, significa ter paciência e tolerância para aceitar a
outra pessoa como ela é, com suas qualidades, defeitos, história de vida, crenças,
emoções e interesses.
Ter o coração no ouvido é ter sensibilidade para
perceber, respeitar e valorizar o outro!
Paz e bem,
Lu Seluque
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